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domingo, 28 de agosto de 2011

Chile: Greve geral dos estudantes e privatização da educação



Marchas com milhares de pessoas pelas ruas de Santiago, capital do Chile, essa é a realidade do país nos últimos meses. Os movimentos estão sendo convocados pela Central Unitária de Trabalhadores (CUT) e movimento estudantil. Esse cenário de grandes manifestações começou com as ocupações e greves em colégios e universidades. Os movimentos têm como principal bandeira de luta uma reforma estrutural no modelo educacional vigente no país há mais de 30 anos, implementado no governo do ditador, aliado dos Estados Unidos, Augusto Pinochet.

O governo ditatorial de Pinochet é responsável por prisões, torturas, desaparecimentos e mortes de 40.018 chilenos. A ditadura no Chile iniciou em 11 de setembro de 1973 quando o governo de presidente Salvador Allende de esquerda e Unidade Popular foi deposto por um golpe militar comandado pelo general/ditador Augusto Pinochet. Começava ali um dos períodos mais sangrento da história chilena, uma ditadura que duraria até 1990. Entre o fatídico dia do golpe até o dia 7 de novembro daquele ano, estimam-se entre 12 e 40 mil os presos políticos detidos no Estádio Nacional de Santiago, muitos assassinados a sangue frio pelas forças armadas. Além de impor o terror no Chile, o país será o laboratório do neoliberalismo no mundo. Assim, todos os serviços públicos foram privatizados, isto é, entregue as empresas multinacionais estadunidenses que passam a ter o completo controle da economia chilena.

Esse modelo neoliberal está gerando um apartheid social no país, e na educação não é diferente. A luta em defesa da educação pública e gratuita iniciada no Chile nos últimos meses destaca-se pelo amplo apoio da população. Além de marchas que reúne 200 mil pessoas, as escolas e universidades privatizadas estão tomadas pelos estudantes. A luta pela educação pública e gratuita transformou-se na principal luta política no Chile e resistência ao modelo neoliberal.

A educação, saúde, saneamento, segurança, habitação, transporte e outros direitos sociais estão todos privatizados (entregues) para as empresas multinacionais que lucram alto. A legislação neoliberal de Pinochet legitimou a educação superior e secundária de mercado. Atualmente as famílias chilenas são responsáveis por financia a educação superior de seus filhos. Nas universidades, chamadas de “públicas”, os alunos pagam taxas de matrícula e as mensalidades custam mais que um salário mínimo. A mensalidade de curso superior no Chile pode chegar a 300 mil pesos chilenos mensalmente, enquanto o salário mínimo no Chile é 182 mil pesos.

Atualmente, mais de 100 mil estudantes encontram-se em situação de inadimplência, com uma dívida média de 2.700.000 milhões de pesos chilenos. Em um país em que mais de um milhão de pessoas recebe por mês salário mínimo, é perfeitamente possível entender porque os mais pobres ficam fora da universidade.

O desenvolvimento das chamadas universidades-empresa, privatizada, funcionam por meio de direções privadas que não asseguram a adequada informação de qualidade e transparência. Nelas, a gestão da educação obedece à lógica do baixo custo: professores com baixos salários e com avaliação de desempenho para que sejam identificados como culpados pelo caos no ensino, chamado de “público” e falta de material acadêmico. Entretanto, as mensalidades pagam, obrigatoriamente, pelas famílias, são elevadas, mesmo o Estado chileno garantindo recursos para funcionamento desses estabelecimentos escolares.

Quanto à situação do ensino secundário é muito parecido com o ensino superior. O financiamento dos colégios “públicos” é realizado pelas empresas, gerando uma desigualdade profunda de acesso a educação. A melhor educação está nos colégios privados onde os filhos das elites estudam situação que garantirá o acesso desses estudantes, as universidades. Já os alunos pobres convivem com o sucateamento das escolas “públicas”, supostamente financiadas pela iniciativa privada, realidade que impede o ingresso dos estudantes de baixa renda ao ensino superior.

Nas manifestações participaram alunos, professores, trabalhadores públicos e representantes de sindicatos empresariais que aumentaram sua solidariedade com os estudantes, após a feroz repressão do governo de Sebastian Piñera durante os protestos. Milhares de jovens foram detidos durante as manifestações, devido à estratégia das autoridades de não autorizar a marcha para aumentar a raiva e criminalizar o movimento social. Os movimentos pretendem mudar a Constituição Política de 1980, elaborada pelos mesmos personagens que agora governam junto com Sebastian Piñera, o multimilionário presidente do Chile

O irmão do atual presidente José Piñera é o formulador da legislação atual em matéria trabalhista, mineira e previdenciária durante o governo do ditador Pinochet. A mobilização dos trabalhadores pretende mudar justamente o panorama deixado pelo primogênito dos Piñera, cujo modelo de sociedade enfrenta a resistência dos chilenos que apóiam o movimento dos trabalhadores e estudantes que defendem o fim do lucro na educação pública para que esta seja gratuita.

A resposta do governo à greve foi a de sempre: deslegitimar os movimentos sociais, assinalando que a greve custará cerca de US$ 400 milhões à economia local. Se consideramos a má distribuição de renda no país, onde 94% da população recebe apenas 6% da riqueza, isso demonstra que o povo chileno já vem perdendo, há muito tempo, com falta de educação, saúde, saneamento, segurança, habitação e transporte público.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

CUT SERGIPE CONVOCA A COMPANHEIRADA


A CUT/SE convoca todos os companheiros e companheiras dos sindicatos filiados para contribuir com a distribuição do Jornal da nossa entidade que acontecerá na próxima quarta feira dia 10/08. A concentração acontecerá na sede da CUT, Rua Porto da Folha (Aracaju) a partir da 8:00 horas. A Proposta é entregar todos os quinze mil jornais num só dia, priorizando rodoviárias, pontos de ônibus, pontos de taxi, lojas, calçadão, portas de fábrica, universidades etc. (Nos bairros colocaremos diretamente nas casas). Neste mesmo dia 10, centenas de militantes das CUTs de todo Brasil estarão em Brasília fazendo uma manifestação no Congresso Nacional, onde entregará uma pauta de reivindicação contendo com: a) Aumentos reais de salário neste segundo semestre; b) Redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais sem redução de salário; c) Reforma tributária: quem ganha menos paga menos, quem ganha mais paga mais; d) Todos os direitos trabalhistas para quem é terceirizado; e) Fim do fator previdenciário; f) Reforma Política: fim das doações de empresas e bancos para candidatos a cargos públicos; h) Liberdade e autonomia sindical etc.



Rubens Marques de Sousa

Presidente da CUT/SE

domingo, 7 de agosto de 2011

Rede Globo vai partir pra cima de Amorim


Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:

Acabo de receber a informação, de uma fonte que trabalha na TV Globo: a ordem da direção da emissora é partir para cima de Celso Amorim, novo ministro da Defesa.

O jornalista, com quem conversei há pouco por telefone, estava indignado: “é cada vez mais desanimador fazer jornalismo aqui”. Disse-me que a orientação é muito clara: os pauteiros devem buscar entrevistados – para o JN, Jornal da Globo e Bom dia Brasil – que comprovem a tese de que a escolha de Celso Amorim vai gerar “turbulência” no meio militar. Os repórteres já recebem a pauta assim, direcionada: o texto final das reportagens deve seguir essa linha. Não há escolha.

Trata-se do velho jornalismo praticado na gestão de Ali Kamel: as “reportagens” devem comprovar as teses que partem da direção.

Foi assim em 2005, quando Kamel queria provar que o “Mensalão” era “o maior escândalo da história republicana”. Quem, a exemplo do então comentarista Franklin Martins, dizia que o “mensalão” era algo a ser provado foi riscado do mapa. Franklin acabou demitido no início de 2006, pouco antes de a campanha eleitoral começar.

No episódio dos “aloprados” e do delegado Bruno, em 2006, foi a mesma coisa. Quem, a exemplo desse escrevinhador e de outros colegas na redação da Globo em São Paulo, ousou questionar (“ok, vamos cobrir a história dos aloprados, mas seria interessante mostrar ao público o outro lado – afinal, o que havia contra Serra no tal dossiê que os aloprados queriam comprar dos Vedoin?”) foi colocado na geladeira. Pior que isso: Ali Kamel e os amigos dele queriam que os jornalistas aderissem a um abaixo-assinado escrito pela direção da emissora, para “defender” a cobertura eleitoral feita pela Globo. Esse escrevinhador, Azenha e o editor Marco Aurélio (que hoje mantém o blog “Doladodelá”) recusamo-nos a assinar. O resultado: demissão.

Agora, passada a lua-de-mel com Dilma, a ordem na Globo é partir pra cima. Eliane Cantanhêde também vai ajudar, com os comentários na “Globo News”. É o que me avisa a fonte. “Fique atento aos comentários dela; está ali para provar a tese de que Amorim gera instabilidade militar, e de que o governo Dilma não tem comando”.

Detalhe: eu não liguei para o colega jornalista. Foi ele quem me telefonou: “rapaz, eu não tenho blog para contar o que estou vendo aqui, está cada vez pior o clima na Globo.”

A questão é: esses ataques vão dar certo? Creio que não. Dilma saiu-se muito bem nas trocas de ministros. A velha mídia está desesperada porque Dilma agora parece encaminhar seu governo para uma agenda mais próxima do lulismo (por mais que, pra isso, tenha tido que se livrar de nomes que Lula deixou pra ela – contradições da vida real).

Nada disso surpreende, na verdade.

O que surpreendeu foi ver Dilma na tentativa de se aproximar dessa gente no primeiro semestre. Alguém vendeu à presidenta a idéia de que “era chegada a hora da distensão”. Faltou combinar com os russos.

A realidade, essa danada, com suas contradições, encarregou-se de livrar Dilma de Palocci, Jobim e de certa turma do PR. Acho que aos poucos a realidade também vai indicar à presidenta quem são os verdadeiros aliados. Os “pragmáticos” da esquerda enxergam nas demissões de ministros um “risco” para o governo. Risco de turbulência, risco de Dilma sofrer ataques cada vez mais violentos sem contar agora com as “pontes” (Palocci e Jobim eram parte dessas pontes) com a velha mídia (que comanda a oposição).

Vejo de outra forma. Turbulência e ataques não são risco. São parte da política.

Ao livrar-se de Jobim (que vai mudar para São Paulo, e deve ter o papel de alinhar parcela do PMDB com o demo-tucanismo) e nomear Celso Amorim, Dilma fez uma escolha. Será atacada por isso. Atacada por quem? Pela direita, que detesta Amorim.

Amorim foi a prova – bem-sucedida – de que a política subserviente de FHC estava errada. O Brasil, com Amorim, abandonou a ALCA, alinhou-se com o sul, e só cresceu no Mundo por causa disso.

Amorim é detestado pelos méritos dele. Ou seja: apanhar porque nomeou Amorim é ótimo!

Como disse um leitor no twitter: “Demóstenes, Álvaro Dias e Reinaldo Azevedo atacam o Celso Amorim; isso prova que Dilma acertou na escolha”.

Não se governa sem turbulência. Amorim é um diplomata. Dizer que ele não pode comandar a Defesa porque “diplomatas não sabem fazer a guerra” (como li num jornal hoje) é patético.

O Brasil precisa pensar sua estratégia de Defesa de forma cada vez mais independente. É isso que assusta a velha mídia – acostumada a ver o Brasil como sócio menor e bem-comportado dos EUA. Amorim não é nenhum incendiário de esquerda. Mas é um nacionalista. É um homem que fala muitas línguas, conhece o mundo todo. Mas segue a ser profundamente brasileiro. E a gostar do Brasil.

O mundo será, nos próximos anos, cada vez mais turbulento. EUA caminham para crise profunda na economia. Europa também caminha para o colpaso. Para salvar suas economias, precisam inundar nosso crescente mercado consumidor com os produtos que não conseguem vender nos países deles. O Brasil precisa se defender disso. A defesa começa por medidas cambiais, por política industrial que proteja nosso mercado. Dilma já deu os primeiros passos nessa direção.

Mas o Brasil – com seus aliados do Cone Sul, Argentina à frente - não será respeitado só porque tem mercado consumidor forte, diversidade cultural e instituições democráticas. Precisamos, sim, reequipar nossas forças armadas. Precisamos fabricar aviões, armas. Precisamos terminar o projeto do submarino com propulsão nuclear.

Não se trata de “bravata” militarista. Trata-se do mundo real. A maioria absoluta dos militares brasileiros – que gostam do nosso país – não vai dar ouvidos para Elianes e Alis; vai dar apoio a Celso Amorim na Defesa, assim que perceber que ele é um nacionalista moderado, que pode ajudar a transformar o Brasil em gente grande, também na área de Defesa.

O resto é choro de anões que povoam o parlamento e as redações da velha mídia.