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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Natal iluminado da Energisa para esconder política de demissões dos trabalhadores



O prefeito Edvaldo Nogueira e o presidente da Energisa Gioreli de Sousa Filho apresentaram para imprensa nessa quarta, 26/09 o Projeto Natal Iluminado que entendem ser um presente para a sociedade sergipana. O projeto será executado no Parque Governador Augusto Franco (Sementeira). Para os dois, Energisa está oferecendo dois presentes à população no ano de 2012: O primeiro será a iluminação permanente da pista de caminhada do parque e o segundo presente é transformar o parque em um embrião de um cenário natalino para que a cada ano o projeto seja fortalecido. Para o prefeito Edvaldo Nogueira a Energisa demonstra uma grande ação de responsabilidade social com o projeto. Já o presidente da Energisa Gioreli de Sousa Filho, ressaltou está satisfeitos com a realização do projeto em participar de ações que favoreçam a comunidade.

Chama nossa atenção que na mesma semana em que foi lançado o projeto Natal Iluminado, o Sindicato dos Eletricitários de Sergipe (Sinergia/SE) fez dois atos públicos nos dias 24 e 27 de setembro na entrada da Energisa para denunciar a política demissões de pais de famílias pela empresa. Segundo o Sinergia/SE, já são 30 demissões ocorridas recentemente na empresa, a maioria de eletricistas. O sindicato ainda denuncia que a empresa tem mil funcionários e cerca de quatrocentos são terceirizados e isso transforma a Energisa em campeã de acidentes de trabalho. Desde que ela foi privatizada, em 1997, foram nove acidentes fatais. Neste ano, já foram dois acidentes gravíssimos.

A Energisa argumenta que as demissões dos trabalhadores é uma readequação de gestão. A mesma empresa que se diz ter “responsabilidade social e está preocupada com o bem-estar da comunidade”, coloca na rua da amargura pais de famílias para “readequar a gestão”. O sindicato denuncia que a empresa paga o menor salário de eletricitário do Nordeste, mas fala em readequar gestão para demitir trabalhadores.

O grave dessa denúncia do Sinergia/SE é confirmada pelo assessor de Comunicação da Energisa, Augusto Aranha no portal F5 News que confirma a existência da política de demissões como se fosse uma virtude da empresa. Aranha afirmou que “foram 29 demissões, mas isso, segundo ele, é um processo natural. Segundo o assessor da empresa de janeiro a agosto de 2012 foi admitido 105 funcionários e demitimos 72 com um bom saldo positivo para a empresa”. As afirmações de Aranha mostra bem a grave política de rotatividade no trabalho de admissão e demissão dos trabalhadores como se fossem percas descartáveis.

Essa política da Energisa serve como exemplo para entendermos as consequências da privatização para a sociedade e os trabalhadores: tarifas elevadas, péssimos serviços prestados devido à rotatividade no trabalho, baixos salários, demissões dos trabalhadores, falta de condições de trabalho resultando em constantes acidentes e insegurança trabalhista. Esses exemplos são ações concretas praticadas por uma empresa que é propriedade do Estado de Sergipe e que foi privatizada em 1997 pelo Governo de Albano Franco. Na época o governador afirmava que a privatização seria bom para sociedade que teria redução das tarifas e melhoria nos serviços e bom, também, para os trabalhadores, pois ninguém seria prejudicado e teriam todos os direitos garantidos. A realidade está mostrando que está acontecendo o contrário do que afirmava o Governador Albano Franco.

Em 2017 vence a prazo de concessão da privatização da Energipe que mudou de nome para Energisa como estratégia dos administradores da empresa para acabar com a identidade que o povo sergipano sempre teve em relação à Energipe enquanto propriedade do Estado de Sergipe e, portanto, do povo. O vencimento do prazo pode resultar em dois caminhos: a empresa tem a concessão renovada e continua sobre controle dos atuais administradores, continuando com a atual política registrada acima ou pode o Governo de Sergipe romper com a concessão e reestatizar a empresa, de modo que a possa voltar para controle do Estado de Sergipe como ação concreta para acabar com a terceirização (rotatividade no trabalho), as demissões dos trabalhadores, os baixos salários e as precárias condições de trabalho.

Não tenho dúvida que os trabalhadores da Energisa preferem ser valorizados com estabilidade no trabalho para que possam trabalhar tranquilos e tenham sua renda assegurada no final do mês para sustentar a família, bem como condições de trabalho do que o projeto Natal Iluminado. O Natal Iluminado da Energisa é mais uma estratégia para esconder a política de demissões contra pais de família e para barganhar a renovação da concessão em 2017. Entendo que nossa luta deve ser pela reestatização da Energipe. Essa será uma boa luta para todos e todas.

Com informações do Portal F5 News e site da Prefeitura de Aracaju.


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A formação humana no ensino de geografia e a produção de textos dissertativos



Na prática escolar são inúmeras as realidades e experiências com as quais nos deparamos. Entre elas cabe destacar algumas deficiências de aprendizagem dos alunos. É sabido que uma das maiores dificuldades é a prática da leitura e escrita. A compreensão dos conteúdos curriculares da geografia ou de quaisquer disciplinas dos componentes curriculares de nossas escolas passa pela prática da leitura e escrita. Nesse sentido, o ensino precisa priorizar e estimular essa prática em sala de aula. A partir de nossa experiência sobre o uso da leitura e escrita em sala de aula, podemos apontar que elas são fatores importantes para superação das dificuldades de aprendizagem e possibilita a reflexão sobre a realidade social, econômica, financeira, geopolítica, ambiental e cultura de Sergipe, do Brasil e do mundo.

A Geografia tradicional teve como objetivo, servir ao poder, defendendo que somente a descrição da realidade seria suficiente para conhecer o espaço geográfico. Essa concepção servia para camuflar a sua importância como meio para conhecer a realidade criticamente e para saber intervir sobre ela. Essa prática de ensino tradicional da geografia é superada através do ensino que considera a reflexão sobre como os seres humanos se relaciona com o espaço geográfico e as consequências sociais, econômicas, ambientais, políticas e culturais dessa intervenção. Essa reflexão, entretanto, precisa ser estimulada pelos docentes através da leitura de textos que aprofundem os conteúdos curriculares e potencialize os debates que surgem em sala de aula. Vale salientar que a formação humana do estudante que estimule a reflexão crítica sobre o espaço geográfico através de leitura de textos complementado com a produção de textos dissertativos possibilita valorização da reflexão e da crítica sobre a realidade, bem como a possibilidades dos alunos identificarem as consequências e alternativas aos problemas próprios do sistema capitalista. Assim, os alunos podem expressar sua opinião sobre determinado assunto, fazendo relações com outros conteúdos já trabalhados, bem como: noticiários de jornais, acontecimentos e conversas do dia-a-dia.

Tem sido comum debates entre professores que a disciplina tem sofrido com pouca importância dada pelos alunos que apenas participam das aulas e buscam memorizar conteúdos para conseguirem a média mínima de aprovação. O pouco interesse dos estudantes emerge do uso estratégico dessa ciência como instrumento de alienação e de poder. Muitos ainda acreditam que a geografia é uma disciplina desinteressante e desinteressada, elemento de uma cultura que necessita da memória para reter nome de rios, regiões, países, altitudes, etc. O desafio dessa ciência, portanto, é colocar os seres humanos no centro das preocupações, refletindo sobre a ação humana em todas as suas dimensões. Na realidade, ela é um instrumento de poder para aqueles que detêm os seus conhecimentos.

Precisamos de uma Geografia que acompanhe as mudanças da sociedade e que seja causadora também de mudanças, trazendo transformações para a realidade da sala de aula, no que tange a formação de seres humanos conscientes e interessados pela realidade social que os cerca. Para que isso aconteça é necessário acabar com a educação bancária no ensino de Geografia como nos ensina Paulo Freire. Nesse modelo de educação bancária, condenado por Freire, o professor deposita conhecimento nos educandos, que memorizam conteúdos e repetem nas provas. O conhecimento torna-se, assim, meramente uma transposição de ideias que, na verdade, não são dos alunos.

Para romper com esse modelo de educação alienante, a produção do texto dissertativo pode ser um método onde os alunos expressam suas ideias a partir do entendimento sobre determinado assunto. O desafio é tornar significativo o contexto das aulas de modo que os alunos possam problematizar os temas e trazer argumentos diversos para as aulas. Assim, podem despertar o interesse para a inserção como sujeito do processo pedagógico, contribuindo para a formação de sua autonomia de modo que possam intervir diante das injustiças sociais. Isso é exatamente o oposto do que propunha a educação tradicional que era marcada pela transmissão de conhecimento, que subestima a capacidade do aluno de criar e de ter sua própria visão sobre a realidade social, econômica, política, financeira, ambiental e cultural.

A produção do texto dissertativo caracteriza-se pela defesa de uma ideia, de um ponto de vista, ou pelo questionamento acerca de um determinado assunto poderá ser produzido a partir de um contexto que estabeleça coerência e coesão no seu início, meio e fim. Assim o professor deve trazer textos complementares para aprofundar o debate em sala de aula, mas com o cuidado de não se transformar em resumo. O texto dissertativo, portanto, pode ser estruturado em no mínimo 20 linhas e no máximo 30 linhas. Inicialmente os alunos podem achar difícil, mas na medida em que exercitem produzindo-os de acordo com os conteúdos trabalhados em sala ou dos debates que surgem em sala torna-se uma prática muito simples para os educandos.

Para produção do texto dissertativo é necessário seguir alguns passos:

1. Na introdução o aluno deve apresentar a ideia ou o ponto de vista que será defendido. Nesse parágrafo, o aluno deve escrever os argumentos sobre o tema proposto. Esses argumentos terão que ser a referência para a produção da segunda parte da redação, o desenvolvimento;
2. Desenvolvimento pode ser divido em dois parágrafos: o primeiro os alunos aprofundam as argumentações (explicações) para que o leitor possa entender as ideias do primeiro parágrafo. Nesse parágrafo, as explicações sobre o tema precisam está postas com profundidade; Já o segundo precisa apontar para o leitor as consequências ou mesmo o que poderá acontecer diante dos fatos relatados nos dois primeiros parágrafos. As consequências apontadas no texto devem servir de referência para a produção do último parágrafo da redação, a conclusão.
3. Conclusão é o quarto e último parágrafo do texto dissertativo em que se dá um fecho coerente ao texto com o desenvolvimento dos argumentos apresentados. Assim os alunos devem mostrar soluções que podem ser tomadas para que os problemas no terceiro parágrafo sejam solucionados ou as ações relatadas sejam aprofundadas. O último parágrafo do texto dissertativo é o momento em que podemos perceber o nível de politização dos estudantes e de entendimento do meio em que vivemos, ou seja, do espaço geográfico.

Nesse texto estruturado em quatro parágrafos, cabe aos alunos o papel e liberdade em apresentar suas ideias sobre o tema proposto pelo professor a partir dos conteúdos trabalhado em sala de aula ou temas trazidos para sala a partir de jornais ou acontecimentos do dia-a-dia. O papel do professor em subsidiar os alunos com textos auxiliares é importante, para que o debate não fica da superficialidade como fazem os grandes meios de comunicações. Aprofundar o debate é crucial para que todos possam escrever seus textos dissertativos tendo elementos suficientes para argumentar, apontar consequências e soluções reais e possíveis de serem realizadas, de modo a superar as relações de exploração capitalistas.

A elaboração de um texto dissertativo não está centrada na função poética da linguagem e sim na colocação e na defesa de ideias e na forma como essas ideias são articuladas. Outra questão importante é o uso das regras de pontuação para que as ideias fiquem claras para quem está lendo. Assim, ele deve ser escrito em frases sucintas (ou mesmo em simples palavras) sem rodeios (afinal, deve convencer o leitor pela força dos argumentos, não pelo cansaço) daí ser preferível o uso da terceira pessoa.

Tal como a escrita, a expressão oral também requer contínuo exercício. Somos produto da “escola do silêncio”, em que um grande número de alunos praticamente fica sentado diante do professor, esperando receber dele todo conhecimento. A fixação dos assuntos trabalhados em sala de aula que resultaram num texto dissertativo precisa ser socializados através de debates onde se estabeleça o contraditório, cabendo ao professor coordenar a discussão e fazer análises também.

Essas são dificuldades que precisam ser vencidas e para isso o professor precisa estar motivado a mudar e preparado para instigar a curiosidade dos alunos inserindo-os no contexto das aulas. É necessário que o professor esteja conscientizado e aberto a indagações dos alunos, deixando de lado a formalidade dos livros didáticos, para que o diálogo e a construção do conhecimento passem a permear a prática em sala de aula. Somente a utilização do livro didático é marca do ensino tradicional, pois este é produzido e utilizado de acordo com o interesse das classes dominantes, sendo que, o que era abordado não contribuía para inserção do aluno na realidade, quanto mais alienado este fosse menos poderia reagir ao que lhe era imposto. O papel do ensino de geografia, portanto, é estimular a reflexão, o debate, a produção de ideias e opiniões sobre a realidade em que vivemos.

sábado, 15 de setembro de 2012

Eleições, levando a sério...



Por Luciana de Lima Marques*

Mais uma vez é ano de eleição e mais uma vez continuamos ouvindo as mesmas promessas e o mesmo discurso de sempre de candidatos aos quais já demos a eles diversas oportunidades e os mesmos não cumpriram simplesmente nada do que falaram em seu discurso. Ou seja, era apenas um discurso de campanha política sem a mínima intenção de fazer cumprir o que ali foi prometido. Se compararmos os discursos de anos atrás com os discursos de hoje veremos que eles não mudaram muito, apenas receberam uma pincelada de mais promessas, enquanto trabalho e compromisso com o povo, que é importante, não vemos.

Está na hora da gente mostrar que realmente queremos mudanças e nos dar a chance de mudar. Qual a lógica que existe em elegermos políticos bons em discursos e em carisma se os mesmos não honram o compromisso feito com o povo durante sua campanha política? De que adianta ouvi-los falar palavras lindas do tipo “povo que quero bem”, se são apenas palavras citadas para ludibriar o povo?

Precisamos de políticos que tenham mais compromisso com seu povo que deem atenção à saúde, ao saneamento básico, aos servidores e principalmente a segurança dos cidadãos. Realmente é muito importante para uma comunidade ser manchete nos jornais, aumenta a autoestima de seu povo, mas, sair nos jornais como sendo um lugar violento, ou por falta de vaga em um cemitério público tendo espaço suficiente para ampliar os mesmos, é realmente lamentável.

Vamos parar para analisar e buscar escolher candidatos que trazem consigo um histórico de trabalho e que realmente buscam ajudar o povo para isso existe a Lei da Ficha Limpa. Chega de tanta incompetência, se o político A, B ou C está no poder foi graças ao nosso voto e o mesmo só vai continuar lá se o povo assim desejar. Já foi a época em cargo político era vitalício, hoje é democracia e na democracia quem manda é o povo e não somente a elite ali existente.

Calçar ruas, ter uma educação e saúde de qualidade, boas condições de saneamento e segurança pública, pagar os servidores públicos em dia, uma melhor distribuição de renda, criar oportunidades de emprego não é um ato de bondade de nenhum político, mas sim nosso direito adquirido ao longo dos anos e de muita luta, está na nossa Constituição. Lembremos sempre que muitos tiveram que dá suas vidas para que tudo isso se tornasse realidade hoje em nosso país e no mundo e a gente simplesmente fecha os olhos diante da realidade vivida.

Vamos parar com essa “paixão aguda”, esse “fanatismo político”, essa “ gratidão acentuada”, tudo que qualquer político possa fazer por nós é apenas um dever dele, pois ele é simplesmente um funcionário do povo por quatro anos ou até menos basta somente que a gente queira. Portanto, é sempre bom lembrar uma frase que é constante na televisão: “voto não tem preço, tem consequência”. Essas consequências são várias, mas vou citar algumas delas e que acho de suma importância, salários dos servidores em atraso, caos na saúde e a insegurança constante.

*Luciana de Lima Marques é aluna graduanda de Licenciatura em História pela UFS – Itabaiana – Sergipe.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A PADRONIZAÇÃO CURRICULAR DA PROVA BRASIL, A PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS E A EDUCAÇÃO PARA O CONFORMISMO SOCIAL



O fetichismo da pedagogia das competências defendida como caminho para superação dos problemas existentes na educação brasileira não passa de mais uma ação do capitalismo sobre as políticas educacionais dentro das recomendações das corporações transnacionais. Esses grupos econômicos e seus intelectuais defendem um aluno/trabalhador adestrado para o novo mercado de trabalho.

O crescente desemprego e a necessidade dos trabalhadores entenderem que o emprego está diminuindo fez o capital se reorganizar no sentido de construir uma cultura do conformismo. A ideia central dessa cultura é o entendimento de que o desemprego é culpa exclusiva dos trabalhadores e não dos empresários e dos gestores. Para ter sucesso na criação dessa nova cultura, a serviço do capital, vem sendo defendido para educação a pedagogia das competências. A ideia dessa pedagogia das competências é que os alunos/trabalhadores adquiram habilidades para que possam se manter no mercado de trabalho.

Dentro dessa lógica, a serviço do capital, o Ministério da Educação – MEC publicou documento sobre a Prova Brasil, objeto de estudo do nosso trabalho, fazendo claras orientações aos sistemas de ensino e escolas das bases curriculares para a prova. A Prova Brasil é uma avaliação que serve de referência para medir o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB dos sistemas e das escolas. Esse índice serve de referência para as transferências de recursos do Governo Federal para os sistemas e as escolas. Na lógica capitalista do IDEB, recebe mais recursos quem for melhor avaliado.

Assim, a defesa explicita do MEC da pedagogia das competências fica claro qual o aluno/trabalhador a ser formado nas escolas brasileiras defendida pelo Governo. A política de enfraquecimento da autonomia docente faz parte desse pacote o qual a Prova Brasil está inserida. O professor adaptado à lógica da pedagogia das competências é aquele que aceita os pacotes instrucionais os quais defendem a padronização curricular. Esse “novo professor” da pedagogia das competências não precisa pensar, planejar e transmitir os conteúdos técnico-científicos. O “novo professor” apenas deve repassar para os alunos os conteúdos das cartilhas prontas para que possam adquirir as habilidades necessárias que interessa ao capital.

A pedagogia das competências pretende criar uma nova cultura a serviço do capital que visa formar uma cultura do conformismo social onde as oportunidades de emprego diminuem e o capital precisa manter o conformismo para manter a “ordem social”. Assim, é preciso formar “cidadãos” que possam conformassem mesmo desempregado, pois a pedagogia das competências visa criar a cultura de que a culpa do desemprego é do trabalhador. Para esses desempregados o capital defende o que fala Motta (2011) da política de “inclusão forçada” onde políticas compensatórias como bolsa família é defendida para manter o conformismo social.

Essa política de “inclusão forçada” vem associada à presença dos alunos na escola. Esses alunos vão passar por um processo de formação a luz da pedagogia das competências de modo que percebam que a existência do desemprego é fruto de sua incompetência individual. O aluno adaptado à cultura do capital terá acesso a projetos que possa desenvolver suas competências para que adquiram habilidades necessárias a lógica do capitalismo.

É nesse cenário que pretendemos analisar a Prova Brasil e os riscos para formação dos alunos/trabalhadores com a pedagogia das competências.

Defenderemos, também, que é necessário caminharmos para uma formação dos alunos/trabalhadores que seja politécnica e combine os conhecimentos técnico-científicos indispensáveis à formação humana de todos os brasileiros. Essa defesa cabe aos movimentos sociais, sindicais e as universidades no sentido de construir uma ação contra-hegemônica a concepção burguesa de educação.


*Artigo apresentado no Seminário Nacional de Direitos Humanos, com tema: Democracia, Direitos Humanos e Desenvolvimento, realizado nos dias 29 a 31 de Agosto de 2012 na OAB-Sergipe na cidade de Aracaju.


ARTIGO COMPLETO EM: http://www.sintese.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4800:a-padronizacao-curricular-da-prova-brasil&catid=77:nacional&Itemid=156

domingo, 2 de setembro de 2012

Governar é inaugurar obras?



Raquel Rolnik em 31/08/2012

O que mais existe por aí é obra que é inaugurada e depois abandonada porque o município não tem política permanente de gestão

Outro dia, viajando de carro de Brasília até São Paulo, fui observando as propagandas eleitorais das cidades por onde passei. Me chamou a atenção o fato de que a maioria dos outdoors e cartazes, assim como os spots de rádio e TV, referiam-se a obras inauguradas pelo candidato. Isso tem tudo a ver com a lógica de que prefeito bom é aquele que inaugura obras, de preferência bem visíveis. Lembrei até de um prefeito de uma grande cidade do Centro Oeste que colocava uma plaquinha em cada uma das obras, numerando-as. Uma praça era 387, um ponto de ônibus era 421, e assim por diante. Infelizmente, essa lógica deixa de lado um dos maiores desafios de qualquer cidade que é a gestão e a manutenção de seus espaços e equipamentos.

O que mais existe por aí é obra que é inaugurada e depois abandonada porque o município não tem política permanente de gestão. A lógica predominante, inclusive da própria estrutura de financiamento do desenvolvimento urbano no Brasil, é a dos programas que oferecem recursos para executar as obras, mas o investimento permanente necessário à qualificação das cidades está longe de ser equacionado. Como a lógica é a da visibilidade da obra e do momento sublime de sua inauguração, o tema da gestão fica relegado… mesmo porque até as próximas eleições, outra obra será inaugurada! Por trás desta relação “obra-eleição” está também a lógica da crescente importância da contribuição financeira das empreiteiras para campanhas eleitorais. Obras novas geram novos recursos de campanha num modelo de financiamento eleitoral, prevalente hoje no Brasil, em que os candidatos dependem mais e mais dessas contribuições privadas para poder se eleger em pleitos cada vez mais competitivos e midiáticos.

A questão da gestão e manutenção cotidiana dos espaços e equipamentos de uma cidade é importantíssima. É como na nossa própria casa: se paramos de investir, um dia a torneira quebra, no outro, o ralo entope, e assim, rapidamente, a casa se degrada. Manutenção não é só fazer faxina, é, também, sempre renovar. De novo, conhecemos isso da experiência de nossas casas: reformar é absolutamente necessário para manter a casa sempre em dia com as necessidades de quem nela mora. Mas como a lógica eleitoral é a da fitinha da inauguração da obra, esse assunto não aparece no debate. O que importa é mostrar quem cortou a fita e inaugurou a obra, e quem estava no palanque, participando daquele evento.

Além do mais, diante dos milhares de problemas que uma cidade enfrenta, nem sempre executar uma obra é necessário ou prioritário. Muitas vezes obras desnecessárias são realizadas apenas porque “aparecem”, ou seja, mostram que o prefeito está “fazendo o serviço”. Essa lógica primária cria “o prefeito que trouxe o hospital”, “o prefeito da escola”… Quando vamos superar essa lógica e enfrentar os desafios da gestão urbana no Brasil?

Raquel Rolnik é arquiteta urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas e coordenadora da área de urbanismo do Pólis - Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais.
Texto originalmente publicado no blog da autora.