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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A formação humana no ensino de geografia e a produção de textos dissertativos



Na prática escolar são inúmeras as realidades e experiências com as quais nos deparamos. Entre elas cabe destacar algumas deficiências de aprendizagem dos alunos. É sabido que uma das maiores dificuldades é a prática da leitura e escrita. A compreensão dos conteúdos curriculares da geografia ou de quaisquer disciplinas dos componentes curriculares de nossas escolas passa pela prática da leitura e escrita. Nesse sentido, o ensino precisa priorizar e estimular essa prática em sala de aula. A partir de nossa experiência sobre o uso da leitura e escrita em sala de aula, podemos apontar que elas são fatores importantes para superação das dificuldades de aprendizagem e possibilita a reflexão sobre a realidade social, econômica, financeira, geopolítica, ambiental e cultura de Sergipe, do Brasil e do mundo.

A Geografia tradicional teve como objetivo, servir ao poder, defendendo que somente a descrição da realidade seria suficiente para conhecer o espaço geográfico. Essa concepção servia para camuflar a sua importância como meio para conhecer a realidade criticamente e para saber intervir sobre ela. Essa prática de ensino tradicional da geografia é superada através do ensino que considera a reflexão sobre como os seres humanos se relaciona com o espaço geográfico e as consequências sociais, econômicas, ambientais, políticas e culturais dessa intervenção. Essa reflexão, entretanto, precisa ser estimulada pelos docentes através da leitura de textos que aprofundem os conteúdos curriculares e potencialize os debates que surgem em sala de aula. Vale salientar que a formação humana do estudante que estimule a reflexão crítica sobre o espaço geográfico através de leitura de textos complementado com a produção de textos dissertativos possibilita valorização da reflexão e da crítica sobre a realidade, bem como a possibilidades dos alunos identificarem as consequências e alternativas aos problemas próprios do sistema capitalista. Assim, os alunos podem expressar sua opinião sobre determinado assunto, fazendo relações com outros conteúdos já trabalhados, bem como: noticiários de jornais, acontecimentos e conversas do dia-a-dia.

Tem sido comum debates entre professores que a disciplina tem sofrido com pouca importância dada pelos alunos que apenas participam das aulas e buscam memorizar conteúdos para conseguirem a média mínima de aprovação. O pouco interesse dos estudantes emerge do uso estratégico dessa ciência como instrumento de alienação e de poder. Muitos ainda acreditam que a geografia é uma disciplina desinteressante e desinteressada, elemento de uma cultura que necessita da memória para reter nome de rios, regiões, países, altitudes, etc. O desafio dessa ciência, portanto, é colocar os seres humanos no centro das preocupações, refletindo sobre a ação humana em todas as suas dimensões. Na realidade, ela é um instrumento de poder para aqueles que detêm os seus conhecimentos.

Precisamos de uma Geografia que acompanhe as mudanças da sociedade e que seja causadora também de mudanças, trazendo transformações para a realidade da sala de aula, no que tange a formação de seres humanos conscientes e interessados pela realidade social que os cerca. Para que isso aconteça é necessário acabar com a educação bancária no ensino de Geografia como nos ensina Paulo Freire. Nesse modelo de educação bancária, condenado por Freire, o professor deposita conhecimento nos educandos, que memorizam conteúdos e repetem nas provas. O conhecimento torna-se, assim, meramente uma transposição de ideias que, na verdade, não são dos alunos.

Para romper com esse modelo de educação alienante, a produção do texto dissertativo pode ser um método onde os alunos expressam suas ideias a partir do entendimento sobre determinado assunto. O desafio é tornar significativo o contexto das aulas de modo que os alunos possam problematizar os temas e trazer argumentos diversos para as aulas. Assim, podem despertar o interesse para a inserção como sujeito do processo pedagógico, contribuindo para a formação de sua autonomia de modo que possam intervir diante das injustiças sociais. Isso é exatamente o oposto do que propunha a educação tradicional que era marcada pela transmissão de conhecimento, que subestima a capacidade do aluno de criar e de ter sua própria visão sobre a realidade social, econômica, política, financeira, ambiental e cultural.

A produção do texto dissertativo caracteriza-se pela defesa de uma ideia, de um ponto de vista, ou pelo questionamento acerca de um determinado assunto poderá ser produzido a partir de um contexto que estabeleça coerência e coesão no seu início, meio e fim. Assim o professor deve trazer textos complementares para aprofundar o debate em sala de aula, mas com o cuidado de não se transformar em resumo. O texto dissertativo, portanto, pode ser estruturado em no mínimo 20 linhas e no máximo 30 linhas. Inicialmente os alunos podem achar difícil, mas na medida em que exercitem produzindo-os de acordo com os conteúdos trabalhados em sala ou dos debates que surgem em sala torna-se uma prática muito simples para os educandos.

Para produção do texto dissertativo é necessário seguir alguns passos:

1. Na introdução o aluno deve apresentar a ideia ou o ponto de vista que será defendido. Nesse parágrafo, o aluno deve escrever os argumentos sobre o tema proposto. Esses argumentos terão que ser a referência para a produção da segunda parte da redação, o desenvolvimento;
2. Desenvolvimento pode ser divido em dois parágrafos: o primeiro os alunos aprofundam as argumentações (explicações) para que o leitor possa entender as ideias do primeiro parágrafo. Nesse parágrafo, as explicações sobre o tema precisam está postas com profundidade; Já o segundo precisa apontar para o leitor as consequências ou mesmo o que poderá acontecer diante dos fatos relatados nos dois primeiros parágrafos. As consequências apontadas no texto devem servir de referência para a produção do último parágrafo da redação, a conclusão.
3. Conclusão é o quarto e último parágrafo do texto dissertativo em que se dá um fecho coerente ao texto com o desenvolvimento dos argumentos apresentados. Assim os alunos devem mostrar soluções que podem ser tomadas para que os problemas no terceiro parágrafo sejam solucionados ou as ações relatadas sejam aprofundadas. O último parágrafo do texto dissertativo é o momento em que podemos perceber o nível de politização dos estudantes e de entendimento do meio em que vivemos, ou seja, do espaço geográfico.

Nesse texto estruturado em quatro parágrafos, cabe aos alunos o papel e liberdade em apresentar suas ideias sobre o tema proposto pelo professor a partir dos conteúdos trabalhado em sala de aula ou temas trazidos para sala a partir de jornais ou acontecimentos do dia-a-dia. O papel do professor em subsidiar os alunos com textos auxiliares é importante, para que o debate não fica da superficialidade como fazem os grandes meios de comunicações. Aprofundar o debate é crucial para que todos possam escrever seus textos dissertativos tendo elementos suficientes para argumentar, apontar consequências e soluções reais e possíveis de serem realizadas, de modo a superar as relações de exploração capitalistas.

A elaboração de um texto dissertativo não está centrada na função poética da linguagem e sim na colocação e na defesa de ideias e na forma como essas ideias são articuladas. Outra questão importante é o uso das regras de pontuação para que as ideias fiquem claras para quem está lendo. Assim, ele deve ser escrito em frases sucintas (ou mesmo em simples palavras) sem rodeios (afinal, deve convencer o leitor pela força dos argumentos, não pelo cansaço) daí ser preferível o uso da terceira pessoa.

Tal como a escrita, a expressão oral também requer contínuo exercício. Somos produto da “escola do silêncio”, em que um grande número de alunos praticamente fica sentado diante do professor, esperando receber dele todo conhecimento. A fixação dos assuntos trabalhados em sala de aula que resultaram num texto dissertativo precisa ser socializados através de debates onde se estabeleça o contraditório, cabendo ao professor coordenar a discussão e fazer análises também.

Essas são dificuldades que precisam ser vencidas e para isso o professor precisa estar motivado a mudar e preparado para instigar a curiosidade dos alunos inserindo-os no contexto das aulas. É necessário que o professor esteja conscientizado e aberto a indagações dos alunos, deixando de lado a formalidade dos livros didáticos, para que o diálogo e a construção do conhecimento passem a permear a prática em sala de aula. Somente a utilização do livro didático é marca do ensino tradicional, pois este é produzido e utilizado de acordo com o interesse das classes dominantes, sendo que, o que era abordado não contribuía para inserção do aluno na realidade, quanto mais alienado este fosse menos poderia reagir ao que lhe era imposto. O papel do ensino de geografia, portanto, é estimular a reflexão, o debate, a produção de ideias e opiniões sobre a realidade em que vivemos.

Um comentário:

  1. Li esse trecho em um e-book:
    O voucher educacional é um sistema bastante simples de entender: o Estado paga, os pais escolhem, as escolas competem, o nível de ensino sobe e todos saem ganhando. Ou seja, cada família recebe uma espécie de cupom com valor pré-determinado, com o qual pode matricular seu filho em escola particular e o valor do cupom é pago diretamente à escola pelo governo. Nesse cenário, apesar de o governo estar financiando a educação, o processo é gerido pelos princípios da competição e livre iniciativa. Escolas boas recebem muitos alunos, ganham dinheiro e crescem. Escolas ruins perdem alunos e precisam ou melhorar ou fechar as portas. Uma irresistível pressão por melhoria é formada.
    (...)
    O sistema de vouchers é atacado pelos críticos em parte porque estes temem que as crianças mais problemáticas sejam deixadas para trás pelos colégios e por famílias negligentes. Apesar de algumas dessas premissas serem verdadeiras, essa visão tem lentamente sido derrotada por um grande volume de evidências, tanto de países desenvolvidos quanto emergentes, demonstrando que a simplicidade e genialidade desse sistema têm corrigido a maior parte das distorções.
    (...)
    Sistemas de vouchers em diversos locais dos Estados Unidos tiveram resultados semelhantes. Segundo Greg Foster, da Fundação Friedman, todos os oito programas independentes de vouchers demonstraram ser superiores ao sistema geral de educação. Os alunos que usavam vouchers foram melhores mesmo nos casos em que o custo para o governo foi menor do que o custo por aluno na escola pública; o valor do voucher nos Estados Unidos é metade do custo por aluno em escola pública. Outro estudo da Universidade de Harvard demonstrou que a qualidade das escolas norte-americanas tende a melhorar quando elas precisam competir por alunos. Como afirmou a revista inglesa The Economist, aparentemente as pessoas que trabalham em escolas públicas são exatamente iguais a todas as outras: elas tendem a trabalhar melhor quando confrontadas com um pouco de competição.

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