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domingo, 21 de outubro de 2012

Shopping Jardins: Palco de barbaridades, violência e discriminação



Por Lídia Anjos*

Mais uma vez a sociedade sergipana se depara com um escândalo envolvendo o shopping jardins e não a um shopping, como alguns jornais divulgaram buscando preservar, inicialmente a imagem deste estabelecimento que tem sido palco de barbaridades, violência e discriminação constantes, só este ano um assassinato e um estupro de vulnerável.

Essa atitude de preservar o nome do shopping criminoso de Aracaju, com certeza passa pela fração de classe social que esta instituição representa, pois quando os crimes são praticados por jovens negros e pobres, os mesmos são completamente expostos, por que não dizer, há um verdadeiro incentivo para um linchamento público.

Ressalto que os episódios recorrentes envolvendo seguranças do SHOPPING JARDINS está se tornando um modus operandi que precisa ser freado, antes que a situação se torne ainda mais insustentável. No início deste ano o Movimento Nacional de Direitos Humanos de Sergipe, MNDH-SE, coordenado pelo Centro de Defesa de Direitos Humanos do Estado – Instituto Braços, junto ao Movimento Hip Hop e o Levante Popular da Juventude articulou outros movimentos sociais, sindicatos e entidades ligadas ao Movimento Negro, para promover um ato público de protesto contra o SHOPPING JARDINS, que naquele momento tentava constantemente se esquivar de sua responsabilidade a cerca dos crimes praticados, direcionando-as a alguns seguranças, em todo caso, de uma terceirizada contratada pelo shopping.

Para as ruas, levamos a nossa indignação e o nosso protesto chamando a atenção para a responsabilidade direta deste shopping. Levantamos reflexões que partiram do espancamento do filho do conselheiro tutelar em 2012, jovem, pobre e negro; A morte de Leidson no início do ano em curso, também pobre e negro, o que nos levou a escolher como dia estratégico para o ato, o dia Internacional de Eliminação da Discriminação Racial, uma vez que entendemos que as práticas criminosas caracterizavam entre outras coisas, práticas de racismo e de criminalização da pobreza e de grupos vulneráveis.

A morte de Leidson foi televisionada. Toda a sociedade assistiu o ato cruel. A pergunta que não quer calar é: Quais as iniciativas promovidas pelo shopping jardins e donos de lojas, na perspectiva de prevenir futuras situações? Que punições ocorreram? Que medidas foram tomadas em relação à regularização e formação dos seguranças numa linha mais humana? Que atitudes foram tomadas pela empresa de segurança contratada pelo SHOPPING JARDINS? Nunca soubemos. Por esse motivo, esperávamos que novos crimes ocorressem. E alertamos para isso, mas no dia do ato, fomos barrados pelos seguranças de entrar no shopping para realizar nosso protesto pacífico de chamar a atenção para a necessidade de se prevenir o pior.

As entradas do shopping foram interditadas por meia hora. Nenhum cliente saia ou entrava até passarem a selecionar quem entraria ou não. Após mais este crime bárbaro empreendidos mais uma vez por outro segurança contra dois adolescentes, no feriado do dia das crianças, pergunto, basta apenas a denúncia? Entendo que ao lado desta, há a necessidade do anúncio de possibilidades de uma nova forma de se fazer a segurança seja ela privada, mas principalmente pública. Mantenho as reflexões levantadas pela Nota Pública do MNDH-SE publicada este ano, quais sejam:

1. NECESSIDADE DE REFORMA DOS APARATOS DE SEGURANÇA: Precisamos repensar junto ao Estado, sindicatos, movimentos sociais e os trabalhadores da área uma concepção de segurança mediadora de conflitos, mais pedagógica e educativa em todos os espaços. Da mesma forma, os shoppings, redes de supermercados e similares de um modo geral precisam repensar suas estruturas e modos de se relacionarem com as pessoas para além da relação exclusivamente consumista e mercantilista que criminaliza a pobreza e reproduz exclusão.

2. NECESSIDADE DE ROMPIMENTO COM A CULTURA DE BANALIZAÇÃO E NATURALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA POR PARTE DA SOCIEDADE: Não podemos naturalizar as agressividades empreendidas por um grupo de alguns seguranças que estavam sob a direção do SHOPPING JARDINS. Sair como vítima de terceirizadas que não qualificam seus funcionários sem formação para a função de segurança, é, no mínimo, querer enganar a sociedade.

Sabemos que grupos vulneráveis diariamente em vários espaços são vítimas de atos desse tipo. Não são apenas em shoppings que situações assim ocorrem, no entanto, essa situação nos obriga a ampliar esse debate da cultura da violência, machista e preconceituosa em que vivemos que faz tantas vítimas. Reflito, quantos casos não vieram à tona por parte de outras vítimas que internalizando serem “pequenos” para denunciarem o SHOPPING QUE VIOLENTA CLIENTES se omitiram? Quem foi punido pelas torturas empreendidas no ano passado aos jovens que apanharam de vergalhões e tiveram seus corpos mutilados?

Por este artigo busco fazer um chamamento para que a população se inquiete e busque refletir sobre quais espaços deseja frequentar e consumir. Os lojistas por sua vez devem compreender sua parcela de responsabilidade também na hora de deliberarem em assembleia do condomínio sobre os rumos em relação às empresas que terceirizam serviços de pessoal. É preciso repensar essa empresa, que grupos estão por detrás dela, a quem serve, estão regularizadas? para que outros clientes, principalmente negros, pobres, crianças e adolescentes não sejam criminalizados e violentados.

Lamento pelos trabalhadores honestos que atuam neste shopping, mas minha inquietação não me permite consumir ou mesmo frequentar espaços como este, pelo menos até que tenhamos um retorno de quais medidas estão sendo tomadas rumo a uma relação mais harmoniosa de proteção, acolhimento e respeito a dignidade de quem quer que seja. Estes são alguns pontos para incitar a reflexão e o bom debate.

*Membro do Centro de Defesa de Direitos Humanos de Sergipe - Instituto Braços, Articuladora do Movimento Nacional de Direitos Humanos de Sergipe – mndhse@gmail.com, Twitter @Lidia_anjos, Facebook/Lidiaanjos

Um comentário:

  1. Caro Roberto Santos:
    Tenho orgulho de ser descendente de sergipano (meu pai), e ter o mesmo sobrenome seu - e muitos primos em Aracaju e no interior, mas visito pouco a nossa terra. Estive em abril deste ano e fiquei impressionada com o luxo e a riqueza dos condomínios próximos à praia e do shopping jardins, na comparaçào com os bairros piopulares. Essa distância existe também em São Paulo, cidade que habito, só que em tamanho muito maior, com as diferenças gritantes multiplicadas mil vezes se comparadas com Aracaju. Aqui, a pobreza está distante dos bairros ricos, mas o preconceito é demonstrado todos os dias. E não é só contra os pobres e pretos, mas também contra homossexuais e nordestinos. Mas não podemos nos calar, temos que denunciar, fazer barulho, nos organizarmos para enfrentar tudo isto. Li seu artigo sobre a imprensa brasileira e assino embaixo. Eu também sou jornalista e, nos anos 1970, trabalhava para "O Estado de S. Paulo", no ABC, onde despontava o Lula líder sindical. Tinha as matérias boicotadas e os editoriais tinham a missão de desconstruir o movimento sindical e suas lideranças. Felizmente, existem os blogs de jornalistas independentes para se contrapor à imprensa conservadora, que leio pouco.
    Sucesso para você,
    Valdir dos Santos
    valdirdossan@gmail.com

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