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domingo, 28 de julho de 2013

Evo Morales, Presidente da Bolívia, explica a verdadeira dívida externa

Por George W. Silva, Siga-o em: @george_wos

Exposição do Presidente Evo Morales ante a reunião de Chefes de Estado da Comunidade Europeia Quem deve a quem? Genial discurso de Evo Morales escondido pela mídia

Com linguagem simples, que era transmitida em tradução simultânea a mais de uma centena de Chefes de Estado e dignitários da Comunidade Europeia, o Presidente Evo Morales conseguiu inquietar sua audiência quando disse:

Aqui eu, Evo Morales, vim encontrar aqueles que participam da reunião. Aqui eu, descendente dos que povoaram a América há quarenta mil anos, vim encontrar os que a encontraram há somente quinhentos anos. Aqui pois, nos encontramos todos. Sabemos o que somos, e é o bastante. Nunca pretendemos outra coisa.

O irmão aduaneiro europeu me pede papel escrito com visto para poder descobrir aos que me descobriram. O irmão usurário europeu me pede o pagamento de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei a vender-me.

O irmão rábula europeu me explica que toda dívida se paga com bens ainda que seja vendendo seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento. Eu os vou descobrindo. Também posso reclamar pagamentos e também posso reclamar juros. Consta no Archivo de Indias, papel sobre papel, recibo sobre recibo e assinatura sobre assinatura, que somente entre os anos 1503 e 1660 chegaram a San Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América.

Saque? Não acredito! Porque seria pensar que os irmãos cristãos pecaram em seu Sétimo Mandamento. Expoliação? Guarde-me Tanatzin de que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue de seu irmão! Genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomé de las Casas, que qualificam o encontro como de destruição das Índias, ou a radicais como Arturo Uslar Pietri, que afirma que o avanço do capitalismo e da atual civilização europeia se deve à inundação de metais preciosos!

Não! Esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata devem ser considerados como o primeiro de muitos outros empréstimos amigáveis da América, destinado ao desenvolvimento da Europa. O contrário seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito não só de exigir a devolução imediata, mas também a indenização pelas destruições e prejuízos. Não

Eu, Evo Morales, prefiro pensar na menos ofensiva destas hipóteses. Tão fabulosa exportação de capitais não foram mais que o início de um plano ‘MARSHALLTESUMA’, para garantir a reconstrução da bárbara Europa, arruinada por suas deploráveis guerras contra os cultos muçulmanos, criadores da álgebra, da poligamia, do banho cotidiano e outras conquistas da civilização.

Por isso, ao celebrar o Quinto Centenário do Empréstimo, poderemos perguntar-nos: Os irmãos europeus fizeram uso racional, responsável ou pelo menos produtivo dos fundos tão generosamente adiantados pelo Fundo Indoamericano Internacional?Lastimamos dizer que não. Estrategicamente, o dilapidaram nas batalhas de Lepanto, em armadas invencíveis, em terceiros reichs e outras formas de extermínio mútuo, sem outro destino que terminar ocupados pelas tropas gringas da OTAN, como no Panamá, mas sem canal.

Financeiramente, têm sido incapazes, depois de uma moratória de 500 anos, tanto de cancelar o capital e seus fundos, quanto de tornarem-se independentes das rendas líquidas, das matérias primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo. Este deplorável quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar e nos obriga a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e os juros que, tão generosamente temos demorado todos estes séculos em cobrar. Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus as vis e sanguinárias taxas de 20 e até 30 por cento de juros, que os irmãos europeus cobram dos povos do Terceiro Mundo. Nos limitaremos a exigir a devolução dos metais preciosos adiantados, mais o módico juros fixo de 10 por cento, acumulado somente durante os últimos 300 anos, com 200 anos de graça.

Sobre esta base, e aplicando a fórmula europeia de juros compostos, informamos aos descobridores que nos devem, como primeiro pagamento de sua dívida, uma massa de 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambos valores elevados à potência de 300. Isto é, um número para cuja expressão total, seriam necessários mais de 300 algarismos, e que supera amplamente o peso total do planeta Terra.

Muito pesados são esses blocos de ouro e prata. Quanto pesariam, calculados em sangue?

Alegar que a Europa, em meio milênio, não pode gerar riquezas suficientes para cancelar esse módico juro, seria tanto como admitir seu absoluto fracasso financeiro e/ou a demencial irracionalidade das bases do capitalismo.

Tais questões metafísicas, desde logo, não inquietam os indoamericanos. Mas exigimos sim a assinatura de uma Carta de Intenção que discipline os povos devedores do Velho Continente, e que os obrigue a cumprir seus compromissos mediante uma privatização ou reconversão da Europa, que permita que a nos entregue inteira, como primeiro pagamento da dívida histórica.


domingo, 7 de julho de 2013

Aquecimento global aprofundará chuvas torrenciais

Stephem Leahy - IPS

O estudo ‘Tendências mundiais em aumento das precipitações diárias máximas anuais”, publicado em junho no ‘Journal of Climate’, trata-se da primeira investigação a usar observações de 8.326 estações meteorológicas de todo o mundo para determinar que a intensidade das chuvas mais extremas aumenta junto com as temperaturas.

Com um aquecimento de menos de um grau, as chuvas extremas já aumentaram 15% nas regiões tropicais, e sua quantidade e intensidade podem elevar-se entre 30 e 60% nas próximas décadas, conclui um novo estudo.

Se a temperatura do planeta aumenta dois ou três graus, como se prevê, as regiões tropicais da América Latina experimentarão com regularidade inundações catastróficas, disse à Tierramérica o investigador Seth Westra, da Universidade de Adelaida na Austrália.

“O vínculo entre mudança climática e chuvas extremas está claramente estabelecido”, afirmou Westra, principal autor do estudo “Global Increasing Trends im Annual Maximum Daily Precipitation” (Tendências mundiais em aumento das precipitações diárias máximas anuais), publicado em junho no Journal of Climate.

Trata-se da primeira investigação a usar observações de 8.326 estações meteorológicas de todo o mundo para determinar que a intensidade das chuvas mais extremas aumenta junto com as temperaturas.

Além disso, a intensidade das precipitações aumentará 15% com cada grau de aquecimento nas regiões tropicais. Se continuarem as atuais emissões de dióxido de carbono, os cientistas calculam que o mundo alcançará dois graus de aquecimento entre 2030 e 2040.

A natureza pode oferecer a melhor solução para controlar o aumento das inundações que se esperam nas zonas tropicais e em outras partes da América Latina. Os bosques e os pântanos absorvem as chuvas fortes e diminuem sua liberação corrente abaixo.

“Uma infraestrutura verde pode ser mais rentável que os custosos controles concretos de inundações”, disse o diretor de programas de conservação para América Latina no ‘The Nature Conservancy’, Aurelio Ramos.

Fazer com que árvores, pastagens e plantas continuem sendo parte da paisagem é extremamente efetivo, tanto para limpar como para reter a água, além de reduzir a sedimentação que obstrui vias fluviais, o que frequentemente piora as inundações. Outros benefícios são a melhora da sustentabilidade e da biodiversidade e as menores emissões de gases do efeito estufa, acrescentou Ramos.

Monterrey, a terceira maior cidade do México, foi severamente prejudicada em 2010, pelas inundações causadas pelo furacão Alex. O desmatamento corrente acima do rio Santa Catarina, que atravessa essa urbe, foi uma causa chave do transborde de suas águas, o que provocou tanto dano, afirmou.

“Um estudo detalhado mostrou que com reflorestamento e com algumas poucas represas pequenas corrente acima reduzem-se em 20% o fluxo de água durante eventos extremos”, afirmou Ramos, que acrescentou que esta infraestrutura verde seria tão efetiva como uma represa grande e mais cara.

A bacia do Santa Catarina cobre 32k2, e o The Nature Conservancy, junto com o Fundo para o Meio Ambiente Mundial (mais conhecido como GEF, por sua sigla em inglês) e outros sócios propuseram um plano de manejo que abarca 35% desta bacia. Para financiá-lo, os sócios, inclusive a indústria, investiram em um inovador compromisso financeiro que chamam “fundo da água”.

Serão necessários cerca de 35 milhões de dólares para que o Fundo da Água de Monterrey gere lucros de aproximadamente três milhões de dólares ao ano, que serão investidos em reflorestar e em compensar os donos das terras por modificar suas práticas agrícolas ou pecuárias.

Os produtores rurais deverão reduzir o uso de fertilizantes, criar zonas de exclusão de vegetação natural nas margens de cursos fluviais ou colocar barreiras para manter o gado afastado de pântanos e áreas ribeirinhas. Esse pagamento por serviços de ecossistemas requer que os latifundiários firmem acordos de longo prazo, alguns inclusive, por até 80 anos.

“Planejamos lançar o Fundo de Água de Monterrey em setembro”, disse Ramos.

O primeiro esquema deste tipo foi o Fundo para a Proteção da Água (Fonag), de Quito, criado em 2000 mediante os esforços do The Nature Conservancy, a Fundação Antisana e a empresa hídrica local.

Agora existem cinco fundos de água no Equador. Graças ao êxito nesse país, o GEF, o ‘The Nature Conservancy’ e o Banco Interamericano de Desenvolvimento lançaram, em 2011, uma associação de 27 milhões de dólares para ampliar estes mecanismos. Presume-se proteger quase três milhões de hectares de bacias em vários países da América, entre eles o Equador, a Colômbia, o Peru, o Brasil, o México dentre outros.

Já estão funcionando 12 fundos desse tipo, e outros 20 deveriam estar prontos para 2015, disse Ramos. “Têm quem entenda que a infraestrutura verde funciona, mas achar o dinheiro para materializá-la é mais difícil”, afirmou. Há importantes argumentos para que as empresas invistam na natureza, por exemplo, reduzem-se os custos de purificação da água e a necessidade de dragagem.

Também se prevê as alterações e se impulsionam os lucros para as companhias que dependem da água, garantindo uma distribuição mais estável. E estes investimentos podem abater os custos das inundações, além de ajudar a manter mais baixos os fatores de risco dos seguros.

A indústria dos seguros é muito consciente quanto aos custos da mudança climática. Inundações, terremotos, secas e outros desastres naturais custaram ao mundo 2,5 trilhões de dólares só nos últimos 13 anos, superando em muito as estimativas prévias, segundo o Relatório de Avaliação Global sobre a Redução do Risco de Desastres 2013, da Organização das Nações Unidas.

Esse relatório afirma que muitas áreas urbanas e industriais agora se localizam em zonas propensas a catástrofes. Os governos e o setor empresarial tem que melhorar o manejo do risco de desastres, conclui.

Estimar onde está o maior risco de inundações é difícil porque há muitos fatores envolvidos, disse Westra, e deve ser tomada uma bacia como ponto de partida.

Cada obra de infraestrutura construída no mundo foi feita com base na informação meteorológica e de inundações dos últimos 30 a 50 anos. “Já não podemos tomar decisões de infraestrutura baseados somente nesses dados”, opinou.

Entretanto, os impactos da mudança climática se apresentam mais rapidamente do que o esperado e antes que a ciência possa elaborar projeções precisas sobre o impacto regional. “Inclusive na Austrália não incorporamos ainda o que a mudança climática pode fazer com nossos padrões de chuvas nos próximos 50 a 100 anos”, afirmou Westra.

Seu estudo constitui uma confirmação de o que a ciência climática vem dizendo desde os anos 90. “Na medida em que o clima se aquece, os países ricos em água se tornam mais ricos e os pobres se tornam mais pobres”, resumiu.

Tradução: Liborio Júnior
Fonte: Agência Carta Maior